quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Os Segredos do Macaco" - Gorilas, babuínos, chipanzés, laterais ,pontas e centroavantes.



Começo este texto com as seguintes indagações: Qual o problema de chamar um negro de macaco? E porque jogadores de futebol negros só se casam com loiras?
O naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), acreditou que as espécies têm uma origem comum, como o macaco e o homem, que descendem de um mamífero primitivo ancestral (antigo). A tese de Darwin até hoje é mal interpretada não só nos manuais escolares, mas também no senso comum apontando que nós (homens) descenderíamos dos macacos, quanto o que ele somente teorizou é que macacos e homens seriam apenas parentes.
O fato é que hoje em dia ninguém quer ter nenhum grau de parentesco ou assemelhar-se a um símio, já que os modelos e consumo sociais de beleza estão mais para girafas esquálidas do que para orogotangos pançudos. O que também não podemos esquecer é que essa padronização de valor e beleza é marcada historicamente.
O antropólogo José Jorge de Carvalho diz que os seres humanos que classificamos como caucasianos, isto é, de pele clara, olhos claros, cabelos lisos e narizes finos - enfim, os “brancos” ocidentais, europeus em geral e muito particularmente os anglo-saxões - definiram um padrão de valor e beleza para toda a espécie humana e o impuseram (antes a ferro e fogo e atualmente através da indústria cultural e do controle político e financeiro) a todo o resto do mundo. Essa imposição começou no séc. XVI, quando os europeus conquistaram a América e consolidaram o tráfico de escravos da África para o Novo Mundo. A partir daí, a combinação de escravidão, colonialismo e capitalismo marcou a imagem do homem branco ocidental como superior aos não-brancos (que começaram a ver-se como não-brancos) dos demais continentes. E penso ser nessa tríade que se coloque o problema: “escravidão, colonialismo e capitalismo”.
Alguns dirão: Lá vem mais um discurso afro-chato! E talvez o seja. Mas se pararmos para pensar, comparar um ser humano, seja ele azul, ou, amarelo de pitinhas pretas, com macaco não é tão ruim assim, já que segundo Darwin somos parentes. Mas se comparássemos um macaco com um ser humano? Teríamos que viver no Planeta dos Macacos, filme 1968 cujo enredo se baseia na experiência de um astronauta sobrevivente de uma missão espacial, que aterrissa em um planeta igual à Terra e descobre que uma raça de macacos falantes domina e escraviza seres humanos, que são mudos.
Assim no Planeta dos Macacos, o atacante Graffite do São Paulo, na Copa Libertadores de 2005, não precisaria ter se preocupado por ter sido chamado de macaco pelo zagueiro Desábato do Quilmes, da Argentina. Nem o volante Tinga quando defendia o Internacional de Porto Alegre precisaria ter ficado ressentido quando em jogo contra o Juventude, também em 2005 no estádio Alfredo Jaconi, pelo Campeonato Brasileiro, torcedores do Juventude gritavam "macaco" cada vez que ele tocava na bola.
A pergunta é: Porque somente os negros se sentem mais ofendidos a serem comparados com macacos? Será que teria algo a ver com uma esquizofrenia que acomete a um povo que não consegue se libertar de seu passado de escravidão? Estaria ai também a resposta do porque jogadores negros que ficam famosos, arrumam logo uma loirinha? Como os negros fazem para não serem comparados a chipanzés?
São questões complicadas e divertidas. É certo que em países de passado colonial e escravista, a cor da pele e a origem étnica são fatores que provocam exclusão e discriminação. Assim, seria hilário chamar um negão rico, que se apaixona uma loira, de King-gong, mas o Empire State é um edifício bonito só para aqueles que estão no alto.


Navegando pela rede colhi um exemplo que pode elucidar, ou pelo menos apontar caminhos possíveis para o entendimento das relações “humanas” no Planeta dos Macacos. O portal literal do Terra traz a seguinte passagem sobre o jornalista, escritor, abolicionista e republicano José do Patrocínio:
Patrocínio discursava empolgado quando lá no fundo da platéia alguém gritava algo como:
- “Cala a boca preto!”
Ao que Patrocínio, impassível, mesmo diante das gargalhadas nervosas da platéia de políticos, brancos em sua maioria, emendava:
-“... Preto como o feijão, que abastece as nossas mesas saciando a nossa fome!”
Mas a voz ao fundo insistia:
- “Cala a boca crioulo!”
E Patrocínio respondia de pronto, sem pestanejar:
- “Crioulo sim, como o jacarandá, madeira nobre com a qual construímos os móveis que embelezam os nossos salões!”
Era quando então, acossada pela dificuldade de desmontar a firme convicção do orador a voz apelava:
-” Cala a boca, macaco!”
Patrocínio, ainda no mesmo tom, respondia:
-"Macaco como... macaco como...(mas, logo a seguir,estressado, perdia a linha,)...Macaco é a puta que te pariu!”
Aí, sim, o clímax, a catarse. Patrocínio desqualificado, caído de sua pose e rebaixado à condição de reles crioulo normal.
Confesso que não conhecia o exemplo, mas podemos deduzir que Patrocínio sofria de uma esquizofrenia crônica, filho de padre e escrava, era farmacêutico, jornalista, escritor, orador e político. Não era um escravo, dentro de uma sociedade escravista obteve mobilidade social e mesmo assim se incomodou por ser chamado de macaco. Durante a história esses pretos me vêm com cada uma, não é mesmo?!?


Escrito por Christian Moura e publicado em 11/8/2009 por " CaLA a BoCA GaLVÃo / Desopilando os pelos deste mundo petshop cão!!!" http://christian.moura.blog.uol.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário