sábado, 15 de agosto de 2009

O dilema ético da Cracolândia! Operação empurra ou violação de direitos?

Viva o Centro, Nova Luz, Luz Nova e agora Luz Viva, os nomes mudam, mas a situação não muito. As estratégias desesperados da prefeitura de São Paulo para revitalizar a região da Luz onde encontramos a chamada Cracolândia, não conseguem ir além de operações policiais, girando em círculos, o poder público custa a assumir um trabalho preventivo. As soluções focadas na população de rua, que se encontra no centro, não passam de paliativas e mesmo midiáticas. Em quanto não forem propostas soluções nas comunidades, o fluxo de pessoas para as ruas do centro não se interromperá. Todos que se encontram em situação de rua e freqüentam o circuito das drogas no centro têm uma história, estão lá por algum motivo e certamente, em se tratando de crianças e adolescentes, já passaram pelo filtro da rede de serviços assistenciais ou escolas. A imensa maioria desses jovens tem prontuários nos conselhos tutelares ou processo de longa data na vara da infância. O poder público há muito tempo esta avisado que algo não ia bem com estas famílias, suas histórias estão registradas em pasta gordas que os conselheiros morrem de preguiça de ler, como se estivessem esperando uma tragédia acontecer para assim abrigar filhos desamparados da miséria. Na prática pouco o conselheiro pode fazer, quando sente que esgotou os seus recursos encaminha o caso a justiça, que é lenta e está muito distante das histórias de vida em questão. Se na medida em que através da escola e do conselho tutelar a família vai avisando de suas dificuldades – falta de creche, envolvimento de um dos filhos com a justiça, abuso de substancia e mesmo a fome e falta de assistência médica e psicológica. A rede de serviços e a justiça parecem assistir de camarote o pior acontecer, os filhos irem para a Cracolândia, os pais perderem a saúde para o trabalho, em fim, a desagregação total dos laços familiares e comunitários.
Os jornais não param de noticiar o vai e vem das ações policiais na área, e a baixa adesão às soluções via saúde mental, enfatizam que a maioria dos usuários de crack rejeita o tipo de ajuda oferecida, dando voz aos comerciantes a favor da internação compulsória, solução rejeitada inclusive por Januário Montone, secretário municipal da Saúde de São Paulo que chamou de “desastrada” a operação que recolheu centenas de moradores e rua e encaminhou – de baciada – para os serviços de saúde. Parece-me que para opinião pública a operação é apenas um empurra empurra, de manhã a polícia expulsa as pessoas da luz que se refugiam nos arredores – “Vim pra cá porque estão batendo na gente lá.” Durante a tarde a Praça da República fica lotada, a polícia vem os espalha e dentro de uma hora tudo está como antes, até a polícia passar lá de novo, a rotina também não é fácil para os oficiais, pressionados para agir de forma truculenta, muitos tem certeza de que isso não resolve. Os comerciantes do centro cobram uma recuperação desses indivíduos, mas pouco sabem quais as dificuldades envolvidas, há uma grande falta de opções de serviços para esta população, para crianças sem família nenhuma só lhes restam os abrigos onde não há vagas, aliás uma opção pouco encorajadora.
Não podemos cogitar a hipótese de internar compulsoriamente, só se estivéssemos na Alemanha Nazista, o Estado esteve ausente durante toda a vida dessas pessoas, ignorando seus pedidos de ajuda, deixando ao deus dará famílias inteiras, mão de obra barata para serviço porco e pesado que não encontrou no poder público a segurança almejada da modernidade. Agora que as elites querem se livrar da gentalha sobressalente, atacam sua liberdade sem oferecer nada em troca, querem trancar os viciados, retirar a guarda dos filhos de famílias na miséria - como se abrigar uma criança fosse alguma garantia de futuro – e principalmente esconde-los em guetos, culpabilizando-os por sua condição, condenando-os a objeto da repressão disfarçada de operação de revitalização. Hoje a saúde esta no olho do furacão, a Secretaria de assistência Social percebeu que não vale a pena atuar conjuntamente com a polícia, inviabiliza seu trabalho, os agentes de saúde, as buchas de canhão da vez, não estão devidamente capacitados e subsidiados em sua rotina de trabalho ( quando um agente presencia um assassinato, lhe oferecem um cafezinho e um intervalo de alguns minutos ). Se a rede de serviços que podem desenvolver um trabalho preventivo, que evite que as pessoas procurem as ruas, a droga e o crime, não aumentar consideravelmente sua oferta e principalmente que as demandas identificadas sejam trabalhadas, que demandas escondidas sejam identificadas através de um trabalho pró-ativo do sistema de garantia de direitos, a população de rua não parará de aumentar. Não deixemos que o debate em torno desse tema descambe para a supressão de direitos e para o fascismo, não importa se a pessoa é nóia ou ladrãozinho de bolsa, são todos filhos do descaso do poder público, que agora deve assumir sua responsabilidade na recuperação e fortalecimento destes cidadãos e não simplesmente tentar varre-los para debaixo do tapete. Ta ai o dilema ético em questão, devemos aceitá-los em suas condição e ao mesmo tempo oferecer incondicionalmente alternativas para suas vidas e pra um novo futuro.

Palavras da Cracolândia!

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