terça-feira, 18 de agosto de 2009

Igreja Universal da democracia de Deus! Se eu não for pro céu, posso pedir reembolso?


Nas sociedades ocidentais contemporâneas, sob regimes democráticos, a categoria mercado tem presença marcante na organização do trabalho, do consumo, da cultura e na política. Sua lógica penetra em todas as esferas de interação social, influenciando todo tipo de prática, individual ou coletiva, tendo a competição como característica fundamental. Assim também é na política, ganhar uma eleição não é muito diferente de vender um produto, o marketing político hoje tem espaço privilegiado nas estratégias partidárias e a competição entre as bandeiras se da no contexto de uma indústria de bens culturais. Isto posto, fica mais fácil identificar quais as questões relevantes no que toca aos escândalos da Igreja Universal.
Para além da querela entre a Globo e a Rede Record existe uma problemática política importante. O que se tem noticiado com freqüência, e o que o Ministério Público investiga, é o fato de a igreja estar ludibriando seus fiéis investindo o dinheiro das doações em negócios privados, no intuito de enriquecer os bispos ou para bancar uma emissora de Tv. Será que este fiéis realmente foram enganados, ou é de interesse também deles de que haja uma emissora de Tv em rede aberta que defenda seus valores, onde podem assistir a cultos e ouvir mensagens? Talvez a estrutura montada com o dinheiro dos fiéis seja bastante coerente com os seus anseios. Afinal a doutrina da Universal é claramente voltada para o sucesso material, sua ética está de acordo com as necessidades de ascensão e segurança dentro de um contexto de competição capitalista. Sua disciplina está voltada para o sucesso material em vida, em troca das doações promete-se a bênção da mobilidade social. Doa quem quer, acredita quem precisa, e se a massa de crentes aumenta a cada dia, é porque a promessa da religião parece mais palpável que as promessas da democracia.
No entanto, hoje assistimos a uma invasão político partidária, por pessoas ligadas às religiões evangélicas, no mercado político nacional. Os fiéis votam cegamente em seus bispos e pastores. Nossas eleições, marcadas pelo autoritarismo e pela manipulação, ficam ainda mais reféns de contornos corporativistas. O voto acrítico dos fiéis em seus representantes da mensagem de Jesus é de longe muito mais preocupante que o fato de Edir Macedo ter ou não desviado dinheiro das doações. E de que forma a sociedade brasileira assiste a cooptação do mercado político pelo messianismo religioso? Como pensar em democracia quando as religiões – e o catolicismo se inclui neste balaio – condicionam o voto do cidadão? As formas como o discurso religioso se cruza com o político é que devem estar na agenda de debates da sociedade. E justamente por ser uma questão não só relativa aos evangélicos é que se colocam panos quentes – afinal, partidos cristãos não são nenhuma novidade – e justamente por tocar nas raízes dos problemas de nosso mercado político, ha muito corporativista e populista, para não lembrar do cabresto, é que não se fala das ligações entre política e religião, assim não se põem em cheque a legitimidade das instituições democráticas. Sustentando a democracia como mito ou valor. Mas e a democracia de fato?
Um provável resultado de toda esta celeuma seria o direito de um fiel, que declara ter sido lesado, poder reaver na justiça doações realizadas, o que é justo, mas não foge da lógica de entranhamento das religiões com o mercado. Fica ai a questão: a religião deve se confundir com a política???

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